O MEDO DA ENTREGA

10-10-2010 14:00

 Minha gente, vivemos hoje num mundo cada vez mais complexo e cheio de paradoxos. Ao longo do tempo, passamos da era industrial com seus métodos de produção em massa para a era da informação, onde somos continuamente bombardeados por um sem número de estímulos, muitos dos quais acabamos por não absorver nem registrar.

O conhecido cientista social Alvin Toffler, em seu livro “O choque do futuro” já chamava a atenção para uma das mais marcantes características do nosso tempo, por ele denominada como transitoriedade, ou seja, o ritmo de consumo frenético faz com que, fascinados pela mídia, envolvidos pelo mito do moderno, venhamos a compulsivamente trocar nosso objetos pessoais, roupas, aparelhos eletro-eletrônicos por modelos de ponta, sempre cada vez mais novos (e aí nos defrontamos com o velho dilema do ovo e da galinha – consumimos mais produtos novos porque eles estão aí ou eles aí estão porque nós temos sede de consumo?)

Esse consumismo tornou-se uma doença generalizada que atinge níveis epidêmicos, independentemente de raça, cor, ou nível socio-econômico.

Outra característica de nosso tempo é a tal da globalização, onde os interesses e modelos regionais são de certa forma anulados em favor de produtos e interesses internacionais. Assim, todos nós, habitantes do planeta, bebemos a mesma coca-cola e nos orgulhamos de ter o mesmo tênis nike novinho em folha...

Transpondo essas observações para o mundo subjetivo das emoções e dos sentimentos, podemos perceber que as pessoas, em sua grande maioria, estão carentes, ávidas de amor.

E por que isso acontece? Quais os motivos de tamanha carência?

Precisamos do outro para crescer. Sem o outro, sem os relacionamentos, nossa vida é apenas biológica e não afetiva. Somos transformados e transformamos através dos encontros ( e desencontros )

As pessoas que cruzam nosso caminho vão nos carimbando com marcas indeléveis que ficam para sempre, sejam elas boas ou ruins. Tais marcas tecem a malha com a qual vamos confeccionando o tecido de nossa existência.

Por isso é tão importante o outro. Por isso é tão importante o encontro (e o desencontro)

E aí chega-se ao paradoxo – em pleno séc. XXI, na era da comunicação, não estamos conseguindo nos comunicar!

 

Se bem que até tentamos... ou melhor procuramos o outro mas temos medo de nos entregar nos relacionamentos. Prova disso são os sites de relacionamento na internet, cada vez mais procurados. O medo nos faz optar pelo namoro virtual ao invés do “olho no olho”...

Nas festas de nossos adolescentes, o namoro – uma prática onde os parceiros vão gradativamente se reconhecendo e descobrindo afinidades, foi substituído pelo “ficar”, onde beijos, abraços e carícias podem ser trocados por vários parceiros numa única noite, sem um maior aprofundamento ou compromisso.

Apenas “azaração” como eles dizem...

Muitas pessoas carentes e solitárias procuram substituir o calor de um afeto verdadeiro pelo vazio do sexo em série sem obter sucesso. E iludidas, continuam a suplicar migalhas de afeto.

O que está ocorrendo com o ser humano?

Precisamos desacelerar para achar a resposta. Desacelerar o pensamento, a mente, para poder escutar os apelos do coração. Retirar as armaduras com as quais enfrentamos as pequenas guerras do cotidiano para nos reconhecermos frágeis, inseguros, sonhadores e por isso mesmo, humanos.

É isso! Não devemos temer nossa humanidade!

Não devemos ter medo de amar. Não devemos ter medo da entrega.

É certo que muitas vezes sofremos, nos decepcionamos e acabamos por nos fechar com medo de uma nova dor. É até natural que tenhamos um certo receio de nos entregarmos ao outro.

Mas...sem entrega não há encontro.

Sem encontro não há troca.

Sem troca não há vida

E sem vida não nos resta mais nada a fazer a não ser continuar sobrevivendo, zumbis hipnotizados pelo mundo afora, famintos de afeto e sedentos de amor.

Amor de verdade...