Medicina de Especialistas

03-06-2011 23:12

 

Com esse título, o jornal "O GLOBO" (domingo - 22/05/2011) publicou matéria de relevante interesse com o título acima. Nela reflete sobre a tendência da medicina brasileira (que segue o modelo americano) em produzir um número cada vez maior de especialistas, em detrimento do clínico geral, médico generalista de formação abrangente. Na matéria, o dr. Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade, afirma: " A cultura (do médico de família) se perdeu (na classe média). Mesmo que o plano ofereça, as pessoas não valorizam, não tem tanta confiança, preferem ir ao especialista, acham que esses caras são ótimos e que o médico de família é para os pobres. Pobres dos ricos brasileiros."

 

Aprofundando o assunto, trago alguns trechos do capítulo - A MEDICINA ESTÁ DOENTE, do meu livro MEDICINA INTEGRAL - uma janela para o futuro 1 :

" - Um breve olhar sobre o panorama atual da assistência médica na atualidade nos leva a indagar: o que está acontecendo com a medicina de nosso tempo?

Vejamos alguns fatos:

  • Cada vez mais se pratica uma medicina armada, provida de ferramentas ultra sofisticadas advindas de uma tecnologia de ponta que nos surpreende com suas notáveis conquistas. Entretanto, apesar de tais recursos, segundo a Associação Médica Americana, a cada ano, cerca de milhares de pessoas morrem devido a efeito colaterais de medicamentos, o que já é a quarta causa de mortes no país.

  • Doenças infecto contagiosas consideradas já erradicadas, retornam com força total, ceifando milhares de vidas, principalmente entre as camadas mais pobres da população.

  • Médicos muitas vezes despreparados, estressados e insatisfeitos por não terem condições mínimas de trabalho, vêem-se obrigados a trabalhar em 3 ou 4 empregos para sobreviver e sustentar suas famílias. Empresas multinacionais e nacionais implantam planos de saúde que, ao mesmo tempo que cobram muito dos seus usuários, remuneram precariamente ao médico, transformando-se em verdadeiras “atravessadoras” da relação médico-paciente e engordando suas receitas anuais em milhares de dólares.

  • Enquanto possuímos uma das floras mais ricas do planeta – verdadeiro tesouro terapêutico, praticamente inexplorado e a mercê da biopirataria, a grande industria farmacêutica mundial encontra em nosso país um verdadeiro paraíso, faturando milhões de dólares ao despejar remédios e mais remédios na população que, por sua vez apresenta acentuada tendência a buscar a auto medicação nos balcões das farmácias pelo Brasil afora.

O modelo médico vigente é estruturado nas bases do paradigma newtoniano/cartesiano onde o importante, como já vimos anteriormente, é a análise das partes, como se o corpo fosse uma máquina e a doença, o enguiço ou mau funcionamento de algumas de suas peças. A partir desta premissa perdeu-se a noção de um ser inteiro (pessoa) e o doente passou a ser representado por um vasto conjunto de órgãos e sistemas que para ser saudável, deveria funcionar plenamente.

Precisamos finalmente, refletir até que ponto os cuidados médicos são, efetivamente responsáveis pela melhoria da qualidade de vida das pessoas. Um estudo da universidade de Stanford, nos Estados Unidos, relacionou os fatores que levam uma pessoa a viver mais de 65 anos. O resultado mostra em % que tais fatores estão ligados a:

10% - assistência médica adequada.

17% - fatores genéticos.

20%- fatores relacionados ao meio ambiente.

53%- fatores ligados ao estilo de vida da pessoa.

Tais números demonstram claramente a intenção existente na sociedade capitalista atual de se implantar a idéia de que a assistência médica é fundamental e prioritária na manutenção do estado de saúde. Pela referida pesquisa percebe-se que, muito mais relevante é a mudança de hábitos das pessoas.

E para terminar esse artigo, volto a recorrer ao dr. Gustavo Gusso:

"Não é razoável cada um ter o seu cardiologista, o seu ortopedista. Não dá para transformar a medicina num shopping center"

 

1 O livro pode ser adquirido em sua versão on-line, através do e-mail - luizholístico@gmail.com